domingo, 16 de setembro de 2012

O que eu diria se fosse você.


Ou o que eu diria se não fosse com você. 
Ou o que você diria se... 
Ou que a gente disse.

Diálogos.



- Eu queria tanto que você fizesse Economia...
- E eu queria tanto que você me beijasse... - com as memórias turvas, não lembra se falou mesmo. Mas ele beijou.

- Você continua com o mesmo cheiro.
- Esse é só pra você.
- No segundo encontro já pode dizer o nome do perfume? (tem ciúme dos seus perfumes, explica)
- Tá, eu me rendo... Pure Seduction.
- Você faz jus ao nome.

- Cuida de mim, é sério.
- Você tá feliz.
- Não mereço cuidado porque estou feliz?
- Por enquanto você tem se cuidado muito bem...
- Mas cuida.
- Tá, tô cuidando.

- Fala com ele!
- O aniversário tá chegando, então vai ter pelo menos um parabéns...
- Espero que tenha mesmo haha.
- Por facebook vale, né?
- Não né! Tem que ser pessoalmente + "tenho um presente pra te dar, quando tiver interesse em receber, me avisa" hahah
- Hahahaha. Mas eu nunca falei com o garoto, não.
- Então, você tem 8 dias (tempo que faltava pro aniversário) pra falar e criar intimidade.
- Porque afinal é mais fácil criar intimidade em 8 dias que em 8 meses... hahah
- Mas é claro. Tudo depende da sua disposição e força de vontade. Sob pressão é melhor, haha.
- Hahaha. Qual tal um recado no Facebook melhorzinho?
- Não!
- Pff.

- Conversei um tanto com minha mãe agora, sobre muitas coisas. Tô apaixonada por minha mãe. E apaixonada por você também! Sempre haha
- Hahaha, essas declarações vindas de você assim do nada até desconfio, haha, mas amo seu jeito surpreendente. Eu sempre do mundo, mas sempre te amando. Já me conformei já em tê-la como minha pé de valsa, haha. Te amo!

- Não me morde!
- Desculpa, haha.
(...)
- Você tá mordendo de novo... não esquece.
- "Tem beijo que parece mordida..."
- Perdoada.

- Vi um livro e quase comprei pra você.
- Qual?
- "Como se purificar"
- Hahaha, não quero isso!
- Vou te dar. E outro de yoga.
- Preciso do de yoga.
- Só né? Sei...

- O filme só não é muito bom porque tem pouco tempo de duração.
- Tudo que é bom dura pouco.
- Hahaha
(De fora: - Ela é pior...)
(De dentro: - Ela é a melhor!)

- Eu vivo expulsando as pessoas de mim... E não tenho tempo de amadurecer, cuidar, como ele tá fazendo... deve ser por isso que me sinto tão só. Porque não deixo as pessoas me conhecerem ou gostarem de mim a ponto de me fazer feliz. As pessoas não sabem como se comportar comigo... e com ele só foi. Ele meio que forçou isso, mas tô aprendendo. 
- Esse "deixa as pessoas ficarem" ao invés de trabalhar nele, acredite naquela frase de Bob Marley que o vento tira, sendo nosso, ele traz de volta. As pessoas são efêmeras. E só pra transparecer seu texto de "Luto" que me marcou tanto, deixa as pessoas se eternizarem, mas se eternizarem em você. E elas vão.

- Now you're big girl and you will be more feminine as you are. All the best for you, linda.

- Would you like to marry with me?
- Of course! Haha
 

(...) 
- Vamos marcar pra chorar com filme triste um dia desses (e fingir que a culpa é do filme...). "Agora vem os girassóis do fim do ano..." pelo menos. Tá acabando... não vamos perder a vontade de nos entregar ao compromisso de realizar nossos sonhos. Se cuida.
- Recompensas. Obrigada pela conversa! 
 E se cuide também. Vamos aguentar, viu?! Almost done. Move on.

- Quero ver o mar, mas não com as pessoas que vejo todo dia...
- Mas as pessoas que você vê todos os dias são seus amigos...
- Ou não.

- Qual era seu brinquedo favorito quando você era pequena?
- É pra perguntar pros pais, meu amor...
- Ou responsáveis.
- Sou sua responsável? Haha
- É.
- Bicicleta.
- Ainda é seu preferido, né?
- Não cresço.
- Você é gigante e nem sabe.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Gabriele

Gabriele entrou assustada no bar que sempre achou muito bonito e nunca teve oportunidade de ir. Esperou por muito tempo um convite, uma roupa, uma ocasião perfeita, uma comemoração. Decidiu que ia entrar aquele dia mesmo. Sozinha. 23:12, olhou no relógio, só pro caso de precisar escrever depois. Porque apesar de ter tatuado Caio Fernando (e chorar todos os dias por isso) dizendo "Não há nada a ser esperado, nem desesperado", sempre esperava. E desesperava.

Sentou no banquinho do bar, "1930", e decidiu que ia paquerar o garçom. Tinha uma leve atração por garçons. Principalmente garçons novos, tatuados, altos e carecas. Pediu uma bebida chamada "Sex & The City", uma mistura de tequila com coisas gostosas. Bonita e cara. Sentiu falta de um homem pra escolher algo mais forte pra ela. Tocava um som parecido com blues e o garçom nem olhou pros seus olhos. Não se importou. Distraída, brincava com as gotinhas do copo.

Olhou pra cantora. Cabelo meio raspado, voz meio rouca e o resto dos componentes da banda homens charmosos, provavelmente socialistas rebeldes que abandonaram a faculdade. Não entendia mais esse povo e começou a concordar com Criolo: "as pessoas só estão perdidas". A cantora deu uma piscadinha e ela decidiu brincar de gostar. Gostava mesmo era de gente.

21 anos. Primeiro aniversário sozinha. Desligou todos os celulares, não entrou nas redes sociais. Segundo ano na faculdade. Finalmente estava começando ser. Não que fosse muito, mas pelo menos descobriu que era só isso, mesmo. E que nunca ia parar de procurar mais. Cansada. As lágrimas começaram a escorrer sem pedir permissão. 21 anos. Sozinha, num bar.

Intervalo da banda e foi se exibir no piano de cauda no cantinho. Coldplay. Dedos gritaram na tecla e ao terminar, longo sussurro de palmas. Com os olhos embaçados, voltou a se concentrar no outro copo. Coração batendo forte diante tantos desconhecidos. Apreciava a sensação.

Até que ele levantou, sentou-se do seu lado e disse: "Pra quem foi a música?". "Pra mim. Hoje é meu aniversário e Coldplay é uma das minhas bandas preferidas". "Plágio é feio". Bufou. Não gostava muito de quem não gostava de suas bandas prediletas. Sua filosofia era música. Se quer dormir comigo, péssima maneira de abordagem, pensou. Reparou nele e pensou sua irmã dizendo "você tem essa mania de achar feio bonito né... sua cara". Cabelo bagunçadinho, com barba por fazer. Não deu conversa. O menino levantou e foi ao piano.

November rain.

"Essa foi pra você. Hoje é seu aniversário e Guns N' Roses é uma das minhas bandas preferidas."

Com os olhos cheio de lágrimas percebeu que foi o melhor presente da vida dela. Everybody needs somebody. Sorriu e manteve a conversa por 4 horas e  mais um pouquinho. Contou do amor velho, do novo, e do de sempre. Contou sobre as sua teorias malucas e ele riu quando ouviu ela dizer sem parar algo mais ou menos assim: "O que seria o amor se não deitar na grama pra procurar desenho nas nuvens? Ou fazer da pupila do outro um espelho? Ou não aguentar de saudade e quebrar as regras femininas de conquista? Ou ele assistir espetáculo de ballet e ela de luta? Ou fazer nada e achar o silêncio muito bonito? Ou bater de brincadeira usando a desculpa que tapa de amor não dói? Ou isso que faz parecer qualquer coisa/outro imbecil?..."

"Seria sexo. Tem lá suas vantagens também..." E os dois riram como se a noite fosse infinita. E o amor também.

Nascer do sol. Novo ano. Novas conquistas. Novos desejos.

Agradeceu pela noite e se despediu. Beijo lento como em toda cena de amor tranquilo. De pessoa de 21 anos em paz consigo e com os outros.

"Não vai me dar seu telefone?"
"Me dê o seu. Eu te ligo"

Gabriele nunca ligou.