domingo, 14 de fevereiro de 2010

Solidão a dois

Queria falar de mim, mas já que agora (agora, nesse momento, não agora no presente, por muitos dias) está em cada pedacinho de cada átomo das minhas células, terá que participar desse texto também. Porque eu preciso dizer pra você parar de dizer coisas que me fazem ficar rindo depois. Não tenho mais desculpas do que dizer pra minha irmã quando ela pergunta "é o quê, Fernanda?" e me deixa toda embaraçada. Não estou acostumada com essas coisas, e nem sei se quero. E é chato que o sorriso só vem depois. Sou lerda pra tudo, até pra sorrir. Eu queria que você estivesse aqui agora e cantasse pra eu dormir. Aquela música que gostamos. Ou até "nana neném" ficaria bom na sua voz rouca, que eu já nem lembro direito como é. Queria rever, também, seu sorriso tão sem graça. Hoje fiquei com raiva de mim por não dar oportunidades às pessoas. Somos tão chatos. E já sinto um desespero ao usar a primeira pessoa do plural. Hoje é dia dos namorados nos Estados Unidos. Imagino que goste mais de lá do que daqui. A gente podia aproveitar de alguma forma. Tá bom, vou fazer minha parte sozinha, como sempre. Esse texto é todo seu, tá bom assim? Tá. Não é um grande texto, nem é tão bonito. Mas eu ficaria feliz em saber que alguém escreveu pra mim. Mesmo que você nunca leia, nunca toque, nunca nada, ele é seu. E isso é importante, claro que é. Se um dia a gente se casar, eu te mostro. Ou mesmo, se balançarmos juntos num balanço sincronizado. Queria dizer algumas coisas, mas ainda é estranho pensar que você vai sentir uma pontinha disso tudo por telepatia. Só queria poder dizer um dia, num balanço, um pouquinho de tudo. Bem pouco mesmo. Coisas que talvez caibam num olhar, ou num beijo demorado. Preciso cobrar aquilo. Não demora.

Procura-se aquecedor do coração

O ar gelado entrando sem querer nos pulmões. Sem querer, digo, contra minha vontade. E a pele reclamando, arrepiando o último fio de cabelo do meu dedinho do pé. O professor fala algo sobre gene e meu cérebro mais ativo que o resto do corpo, por conta do frio, vizualiza meus futuros filhos. Gosto da minha mão pálida com a caneta I♥SP e mais amarela que o normal. Vinte e um graus aqui dentro, mas parece muito mais. Lá fora deve estar pouco mais alto que isso também. Meu nariz e minhas orelhas se destacam, gelando cada vez mais a cada segundo. Só penso no meu cobertor e num bom livro. Tenho teste no próximo horário e falta exatamente um minuto pro próximo horário. Não estudei, mas é matemática. Nessas horas que sinto falta de Letícia me ligando de meia em meia hora pra me lembrar das coisas. E Murilo acabou de entrar. Murilo é meu professor de matemática. Ele tá bonito hoje, de terno. Está escrevendo algumas coisas no quadro e eu no caderno. Bom assim, ele escreve as coisas dele e eu as minhas. Meu corpo reclamando querendo mais roupa e minha alma reclamando por mais contato. Peço um abraço pra Lua e recebo um de graça de Neto e Bruna. Murilo faz gracinha e agora começa a discussão sobre Beyoncé. Uns remexendo na cadeira tentando disfarçar o frio. Eu fico quieta, prestando atenção numas conversas ao redor. Prendo o cabelo, apesar do frio, e sinto saudade do meu cabelo acima do pescoço, gosto assim. Doze horas e três minutos e só quero coberta. Nem livro mais. Ouço o que o professor fala, mas não presto muita atenção, posso aprender em casa. E minhas palavras, não podem esperar em casa, são como borboletas, vivem 24 segundos. Alguém pergunta quando vão vir desligar o ar. Estou morrendo, mas não quero que desligue. Sinto que minhas palavras vão acabar junto com ele. Gargalhadas. Gracinhas de Murilo. E de repente, sorriso vira remédio pro fio, também. Aquece a alma. E entristece e empobrece meu final não programado.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Anabola nº 2

Estamos indo de volta pra casa...
Último dia de viagem. Prometi a mim mesma que escreveria uma coisa, em consideração aos meus melhores pensamentos de madrugada. Agora as memórias são mais frias, queria poder escrever no momento certo, onde os sentimentos ardiam. Mas nem pude. Incrível como temos os melhores pensamentos quando não temos papel. Não escrevi porque dividi o pequeno quarto do hotel com as irmãs, não tinha tomada do notebook, nem tinha papel e caneta. Preciso lembrar de não esquecer papel e caneta por todo lugar que for, além da câmera fotográfica. O hotel é um dos menos bonitos de todos que já fomos. Aliás, já fomos em piores. Mas é quase feio, mesmo. Pelo menos temos uma vista linda do pôr-do-sol na praia da varanda, mesmo. Da varanda de baixo, do hotel. Porque no quarto não temos o previlégio disso, apenas uma janela que não abre e um ar que não funciona. Nem ficamos no hotel, então, foi bem legal. O vendedor de queijo foi a primeira pessoa que parei pra falar. Tentava anotar tudo que dizia na memória. Mas minha memória é uma daquelas máquinas meio antigas, meio quebradas... e eu gostei dele. “Ô fia, você já pegou avião, foi? Eu tenho um amigo né, que ele falou assim... que quando ele entra no avião, dá aquele frio na barriga, sabe, que parece aquelas montanha de parque. É verdade, fia? Pois é, esse meu amigo que eu falei, ele falou que tem aeromoça. A moça tem medo não? Eu hein. Ah, menina, isso aí né pra mim não, ele falou que quando ele vai já pega uma bebida, porque lá serve de tudo né? Ouvi dizer que tem um tanto de coisa pra gente beber. Ele falou que já bebe uns 3 copo de bebida, que aí pronto, não ver mais nada. (...) Tava ali vendendo o queijo praqueles moços lá, eles são austarianos. Não, não sei falar austariano, não... eu fico aqui na praia, mas ainda nem aprendi. Só sei falar ‘ai lovi u’ mesmo, porque todo mundo sabe né... ai eu falo ‘ai Love u’. Mas só isso mesmo. Eles não falam brasileiro, não. Tudo estranho, até tiraram uma foto lá comigo pra levar pr’Austaria. O povo aqui gosta de mim. Ô fia, acho que já vou. Amanhã a gente se econtra aqui, né? Será que o salão cabeleleiro tá aberto ainda? É, hahaha, tem que ficar bonito pro carnaval mesmo. No carnaval eu trabalho aqui até de manhã, é tanta gente aqui, que você nem sabe. Pois é fia, to indo, eu vou por aqui, que é melhor. Té amanhã”. E “amanhã” não nos encontramos mais. Fui tirar uma foto do pôr-do-sol, e ninguém quis ir comigo. Encontrei uns meninos de uns 8 anos, e eles foram simpáticos. Falaram da água viva, das ondas, e até me ensinaram sobre as pedras. Veja só, meninos de 8 anos. Todos lindos, tirei foto deles, e eles tiraram minha. Nem precisamos perguntar os nomes, um foi logo enxugar a mão pra poder segurar na câmera. Adoráveis. E puros, como todas crianças. No mesmo dia encontramos o tal galego, que nos alugou as cadeiras de praia. Ô trenzinho desconfortável essas cadeiras, viu. Eu prefiro a canga estendida na areia, mas a praia tava meio suja, e meu pai quis as cadeiras. Lembrar de nunca fazer o que quero, porque o tal galego foi o melhor de todos, mesmo. Eu fotografava a praia, desconhecidos e lindos, quando usei o óculos e ele falou por trás de mim “Eu também fazia isso, pena que roubou a minha”. Nessa hora, me deu uma raiva do mundo, ou talvez fosse pena dele, mesmo. Ele tinha uns dentes falhos, cabelo feio, pele queimada, mas era encantador. Ou talvez eu veja encanto onde não tem. Não sei o que disse, talvez sorri, como sempre, e ele se aproximou, enquanto todo mundo tava no mar. Disse assim “você só fica aí tirando foto, deixa eu tirar uma sua”. Primeiro, tive medo, como sempre, mas... cedi, como sempre. Se eu soubesse que era um ladrão, acho que teria dado mesmo assim. Confio inteiramente nas pessoas. E aí, ele tirou uma foto minha com as lentes do meu óculos. Nem ficou muito boa, mas foi problema do óculos, como ele mesmo disse. Das coisas que não vou esquecer, vai entrar na hora em que fui devolver as cadeiras com meu pai (que eram alugadas dele) e tinha um moço “espiando” do lado de fora da pequena cabana caindo aos pedaços. E aí perguntei “cadê o rapaz das cadeiras?”, e aí, ele encostou no meu ouvido e falou meio sussurrando “o galego tá amando”. Achei lindo, inocente. E quis amar, também. Hahaha. Deixei as cadeiras com o amiguinho, e fomos pro hotel. Nesse dia, li bastante Hugh Laurie enquanto minhas irmãs se divertiam com ondas, e sol. No dia seguinte, deixamos a programação por conta de tia Carminha e tio Vockton, e foi o melhor de todos. Claro que eu não estava disposta, mas claro que eu amei, depois que fui. Eles nos levaram pra uma praia que tinha um rio logo na frente, e atrás, a praia. Demorou mais de uma hora pra chegar, mas valeu a pena. Passei a maior parte do tempo no rio, quando fomos um segundo na praia, Marina foi queimada (é queimada? Acho que é) pela segunda vez (no dia anterior, também) por uma água-viva. Ô bichinha miserável (nem me pergunte se é Marina que foi queimada duas vezes, ou essas águas vivas). Marina chorou, mas logo todo mundo esqueceu. E andamos de caiaque, e outra coisa sem nome. Eu, protetor 24 horas. De amarela, quase fiquei laranja. Quando cansamos muito, fomos ao melhor restaurante de lá, segundo os titios, também. E não é que era? Vânia, a dona, nos contou “Quando eu vim pra cá, né, não tinha nada, não, mas a cidade tá crescendo, asfaltando tudo aí pro Carnaval. Eu era lá da praia do Forte, né, mas la era muito ruim... quando comecei a crescer, começou as ladainhas, eu era uma das mais fortes dos pequenos, sabe, aí eu ia num lugar, e falava que não tinha o que queria comprar. Mas tinha sim, eles que não queriam me vender. Aí eu vim pra cá. Porque aqui não tinha nada pro povo comer, fui no mercado, só tinha pão e biscoito. Aí eu fui e falei pro marido, ‘vamos dar comida pro povo de Ibaçaí’, aí a gente montou aqui. Tem quartinho ali no fundo pra alugar. Mas eu não gosto de muvuca, não. Aqui dá pra criar os meninos sossegado, fecho cedo, abro a hora que quero o restaurante aqui e vai indo. Mas se começar a vim gente demais, eu não gosto de enxame, aí eu saio logo daqui e vou procurar qualquer lugar aí no mundo.” Ela foi legal, e foi a que mais falou. O que mais gostei foi seu jeito de vida. Procurar qualidade de vida, saúde e tranqüilidade. Se o dinheiro acompanhar, ótimo, se não... azar. Depois fomos na Vila da Praia. Pensa um shopping em céu aberto, praticamente. Todo lindo. Vila de novela. Me deu vontade de chamar meus amigos pra passarmos um tempinho lá. Seria divertido, super lindo. Comi beiju de coco com leite condensado. Delícia. Chegamos em casa acabados. Lógico que pelo texto vocês vão achar que não foi nada. Mas remar cansa muito, sol cansa, andar cansa, praia cansa, tudo cansa. De lá pra cá, dormimos o que pudemos, e ainda tomamos banho, lavamos o cabelo, secamos, fechamos o olho e abrimos. E finalmente, hoje (sábado, 30 de janeiro 23:53 rs), consegui uma tomada e tive coragem pra ligar o notebook. Quis ir na despedida de Ayume, e senti saudade dela, de tudo que ela fez pelo Interact, por mim, e por muitas pessoas, com certeza. Ela é linda. Mas depois, esqueci, me encontrei de novo, com um dos melhores primos do mundo – Tom e Volfer – pra poderem mostrar a moto que compraram com o próprio dinheirinho. Toda linda, com cheirinho de orgulho e felicidade. Fomos no shopping e eu tinha que ficar no mínimo uma hora na Saraiva, e meia na Imaginarium. E tinha que querer muito morar numa capital. Por acaso, me responda, eu tenho cara de “oi, venha me pedir ajuda, estou a disposição”? Tá, eu tenho. Assim que minha irmã levantou do sofá pra pegar um livro, não deu tempo nem colocar a mão do lado, que o menino chegou e veio me pedir uma indicação de livro. Tantas pessoas na livraria, e ele vem até mim. E aí, ele foi o mais chato, mas coitado, nem tinha culpa. Eu que não gostei dele, mesmo. E ele me contou a vida, do amigo que estava atrasado, do aniversário da amiga, da escola, de São Paulo. Até que eu resolvi ser chata de novo, e aí ele foi embora, agradecendo pela indicação. Foi bom vim pra cá um tempinho antes das aulas. Deu tempo de animar as células e gritar pra mim: você precisa morar numa capital! Então, vamos fazer por merecer, agora, a partir de quarta. Estou mesmo empolgada pra estudar. Quero aprender, viver e saber cada dia mais. Fomos assistir filme, mas nem deu. E no fundo, fiquei feliz, não tava um mínimo animada. E foi ótimo, conversamos muito. Tom é muito simpático, e ele ri de tudo que dizemos. Volfer é mais parecido comigo, mas tenho que dizer, que prefiro Tom. Um moreno e um loiro, irmãos, acho lindo. Gosto de pessoas que (pausa pra dizer que é 00:00) conversam de tudo, sem preconceito. Tom é uma dessas. E a gente riu muito, de tudo e todos. Eu quase quis contar pra ele toda minha vida quando ele perguntou dos meus paqueras. Ah, o povo daqui fala “paquera/paquerinha”, adoro. Meus paqueras... estão aqui em Salvador esperando por mim!!! Ele riu e mudamos de assunto logo. E aí, nos despedimos. Toda despedida é chatinha, né. Ele mandou eu ter juízo. Tudo que menos preciso é juízo. Mas eu gostei dele falando, e gostei como me abraçou. E Volfer me abraçou bonitinho, também. Me arrependi de não termos tirado uma foto juntos. Ano que vem, vou ver se peço minha mãe pra passar uns dias aqui. Eu gosto do meu conforto, admito, mas depois que saio dele, não quero mais voltar. Aí me lembro, de como diferente é muito melhor. Nem deu tempo de sentir saudades de Conquista. Fiquei feliz com isso, e nem espero que tenham sentido minha falta. Gosto assim. No shopping, encontrei coisas tão lindas, pra pessoas que nem me conhecem, mas que se fossem minha amiga, eu compraria pra dar de presente, porque combina tanto. Pena que nem são. Acho que devo investir nessas pessoas, não gosto de coisas comuns. E as pessoas que convivo são no mínimo, assim, comuns. E amanhã, estamos indo, logo cedo. Vai deixar saudades, como toda viagem que fazemos. Me arrependo de nunca ter levado um diário ou qualquer outra coisa, além de máquina. Tudo que me resta das viagens mais lindas é essa cachola falha. Vou dormir, porque minha irmã já está resmungando da luz. Amanhã, 5 horas dormindo de mal jeito, e 1 hora assistindo House, pra ser feliz! Boa viagem pra mim. E obrigada, qualquer ser que permite que isso tudo aconteça. E sabe de uma coisa, eu precisava era mesmo do mar, e da Bahia de todos os santos! Só pra sentir mais de perto isso que eu não sei definir. De qualquer jeito, acho que Nando Reis tinha toda razão do mundo quando escreveu “de frente ao mar a gente se sente melhor”.