domingo, 14 de julho de 2013

Não mete a colher

Ela
Abriu os olhos. Jurou bem juradinho que não ia escrever. Nem escrever, nem ligar, nem correio, nada. Olhou pra janela. Nem uma célula se (co)moveu com os primeiros raios de sol. Laranjas. Pegou a agenda. 3 capítulos de livros diferentes e 2 episódios, as obrigações do dia. Esperou a mãe pra tomarem café juntas. A mãe perguntou dele, pela primeira vez. Já sabia... coisas de mãe. Queria não pensar, mas aquele sonho, aquele dia, aquele futuro, aquele... é, aquele. Para! Acabou. Quebrou a xícara,  ao  lavar. Colocou Franz Ferdinand e saiu. Ia passar. O tempo não erra. O celular toca. É a música dele... 

Ele
Meio dia. Merda. Perdeu o vôlei. Levantou pegando a blusa do dia anterior e a bermuda mais fácil. Deu bom dia pra mãe e saiu de casa. Ligou a moto e seguiu um carro qualquer, por diversão e distração. Aquela puta não saía da cabeça. Puta, puta, puta. Não entendeu porque ela fez aquele escândalo. E aquela noite, porra. Como pôde abandoná-lo depois daquela noite? Parou a moto no fim da cidade. Olhou o celular só pra conferir. Distraiu-se com a gostosa que passava. Pensou muito, enquanto observava um pássaro. Eram livres, qual o problema? Pegou o celular, tinha que ligar. Ela não ia fácil assim.

sábado, 6 de julho de 2013

Refúgio

Onde todo mundo é de todo mundo. Onde é permitido ser piriguete, emo, rockeiro, gay ou culto no mesmo grupo. Onde tem quem saiba demais e quem não sabe de nada. Onde tem muita gente disposta a ensinar, e um tanto a aprender. Onde a ignorância é muito feliz e a inteligência não significa muito. Onde tem muito violeiro, muito casamento e muita reza. Onde é cura. Onde tem sorvete por 1 real e x-egg por 3,50. Onde amizade é de verdade e a fruta é do pé. Onde eu me escondo, me acho, me entrego. Onde não tem regras, nem polícia. Onde somos nosso limite. Onde não pega celular e em compensação, as conexões são muito mais verdadeiras. Onde eu já odiei, já amei, já ignorei. Onde é pequeno, mas é Capital do Forró. Lá, onde é livro aberto de tantas histórias, tantos bêbados, malucos, nerds, vocês, eu. Onde qualquer um é bem vindo. Onde todos estão sempre com os pés sujos. Onde pessoas e um litro de Coca-Cola com muitos copos de plástico é sinônimo de muita risada. Onde a gente canta, dança, ri, conversa, briga e o tempo não passa. Onde ninguém tem pressa... aposentados na porta de casa, fofoqueiras de plantão, amigos na praça. Onde tem muita esperança. Onde todo mundo vai pra São Paulo e volta no São João. Onde amizade é ouro e comida de vó é rotina. Onde a gente aprende o outro e ensina a gente. Onde pra ser importante só é preciso ser. Onde rua é palco. Onde Posto é cinema. Onde cemitério é segredo. Onde há vida. Onde há presente. Quem precisa de futuro? Onde a pele é cinza e o olhar intenso. Onde eu aprendi, no meio de tantas dúvidas e um pouquinho de dor - confesso -, que tudo passa... e se a gente souber escolher o cenário e os personagens certos, fica até suportável. A gente precisa é de coragem e vontade. Vontade de viver, aceitar, querer. E eu quero. Quero muito. Como nunca quis antes.