quarta-feira, 30 de março de 2011

Linda Sophie,

...hoje eu vi sua mãe, com você escondida. Toda bonita. Foi por foto, mas ainda assim dá pra sentir felicidade de longe. E você toda apertadinha aí dentro. Dá pra sentir cheiro, também. Quando a gente gosta muito, a gente lembra do cheiro das pessoas. Eu aposto que você vai se apaixonar pelo cheiro de sua mãe. É lindo, lindo, quase tocável.
Na verdade, seus pais ainda não decidiram se você vai ser Sophie de verdade. E quase te chamaram de Tom por um bom tempo, acredita? Ai, ai... Mas eu precisava escrever, e ficaria um pouco feio não ter o nome do remetente, não é? Além disso, é bonito ser Sophie, mesmo não sendo. Se é que você entende.
Então, pequena... eu só queria te dizer que estou ansiosa pra você sair daí. Talvez seja um pouco egoísta, porque eu sei que deve estar quentinho, fofinho, um pouquinho apertado, mas protegida. Não é muito legal um tanto de coisa nojenta juntas, mas as melhores coisas da vida, são aparentemente nojentas, mas isso é conversa pra daqui alguns anos...
Sabe, Sophie, eu queria dizer pra você aproveitar aí. Quando a gente nasce, a gente cresce, cresce, cresce e nem lembra. É um pouco chato esquecer, porque deve ser lindo viver 9 meses dentro de alguém. Depois disso, a gente só entra em alguém com outro tipo de relação. Que não é materna. E isso de mãe-filha, é tão lindo... que se você pudesse se ver, aposto que ia gostar muito.
Eu queria ter te visto preta e branca, na telinha, com tia Dila e Cris... mas eu aqui, te imaginando bonita. E acredite, com seus pais, sair feia é quase impossível. E nem é um pensamento positivo, é Biologia, mesmo. Daqui uns tempos você aprende.
Talvez você esteja um pouco curiosa sobre o mundo aqui fora. Talvez te façam um pouco menos pura. Mas a gente cresce, Sophie. Às vezes dói. Daqui uns tempos, vai ficar insuportável ficar aí quentinha. Não tem mais jeito. Você vai ter que sair. A gente tenta viver como pode... enquanto isso, aproveita aí. Deve ser isso que chamam de paz e que é tão difícil conseguir nos mundos atuais.
Seus pais são lindos, Sophie. Aposto que já está acostumada com sua mãe cantando pra você... ninando, amando. E com Cris beijando vocês duas ao mesmo tempo. Olha que coisa linda. Beijar duas pessoas ao mesmo tempo! E nada que envolva algum pensamento malicioso. Pureza.
Eu te espero ansiosa, princesa.

Beijo, no seu coraçãozinho, que bate o tum-tum mais bonito do mundo atual,
Nanda.

P.S.: Beijo a barriga de sua mãe, daqui mesmo, que eu já tanto amo e quero bem...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Feliz dia da mulher

Vitória da Conquista, 09 de maio de 2011.

Feliz dia da mulher, Fabi. Atrasado, segundo o calendário, mas diferente de você, nunca sei a hora certa pra dizer, falar, abraçar... e cá estou, lhe desejando feliz dia da mulher um dia atrasado. Dizem que dia da mulher é todo dia, mas eu ainda sou ligada nessas datas... sempre me motivam, apesar de saber que são mais capitalistas que tudo. E ontem, fiquei pensando, quando minha mãe me acordou com um "parabéns", do porque parabéns... E é por sermos demais. Mas será que é certo ser demais? Sentir demais, falar demais, querer demais, suportar demais. E de repente, quis parabenizar todas as mulheres do mundo e quis ser valorizada. Se os homens soubessem como era difícil ser de tal gênero, todas as mulheres, talvez, estariam floridas hoje. De qualquer forma, não parabenizei ninguém, porque no fundo, ninguém daria valor e seria só mais um "parabéns", como se ser mulher fosse fácil. Talvez seja, pra muitas... mas acho difícil ser mulher pra mim. E achei que você também acharia. Não sei se acertei, mas carregamos um mundo na costas exposto. E às vezes dói, pesa e só queremos uma pessoa no mundo pra dividir o peso, que só aparece quando a gente esquece que tá pesado. Mas é tão difícil esquecer, não é? Às vezes, a família e os amigos ajudam a carregar, mas tá grudado... e só é aliviado com coisas que parecem que não existem. Pelo menos, no momento. E a gente aguenta, aguenta, até derramar lágrimas materializadas em texto. E ninguém sabe quanto o dedo sangrou, calejou pra escrever... expor, mandar, enviar, guardar, colocar debaixo da porta, ou desenhar no céu. O mundo reclama, e mulher não pode implorar. Só podemos pedir pra ficar nas entrelinhas, no olhar que tantas vezes não é entendido. A alma grita, e o corpo tem que se comportar. Mas eu queria mesmo, Fabi, era agradecer. Por ter me libertado pra ser eu mesma. Porque de repente, me vejo pensando como você... mas não porque quero, porque sou. Sou como você, em diversos aspectos, e em diversas formas de mulheres. E com minha pouca idade (comparada à sua), descobri com você que posso ser eu, que algumas coisas podem sim ser ditas, e que o mundo é bonito não só pra mim, só depende do ponto de vista. Eu aprendi a olhar do seu ponto de vista. Sempre esteve tão exposto, mas eu tinha medo de ver, e você me libertou pra mim. Não sei como poderia agradecer. E quantas vezes, mandei pra alguma amiga um trecho seu e embaixo: Fabi Mariano... É tão difícil usar aspas nessas horas, em que você poderia ter dito, mas você está sempre lá, porque não faz mal pensar igual. Faz? Só faz mal não dizer primeiro quem pensou. Queria te mostrar pro mundo, e fazer das mulheres, mulheres como você. Que sofre, chora, grita, esperneia, dorme no colo da mãe e sabe dar valor, mesmo implorando por quem ama. O mundo precisa de mulheres assim, Fabi. Valorizadas. E saber se dar valor não é se punir e virar freira. Saber dar valor é também saber dar valor aos sentimentos, aos prazeres, aos quereres, à liberdade, e ao respeito, o que você faz muito bem e eu admiro muito. Feliz dia da mulher, Fabi. Por ser demais, por existir várias dentro de você, por ser exemplo, por ser... mulher. No sentindo mais amplo e poético da palavra.

Um beijo carinhoso,
Fernanda

P.S.: Depois de pensar um pouco, não me contetei com o "parabéns" de minha mãe e pedi pra um amigo... que disse que eu ainda era menina. Você é menina-mulher, Fabi. E quando crescer, quero ser igual.