sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Desabafo

Uma vida inteira de gente te dizendo o que fazer. Eu só cansei de alguém querendo me consertar. Quero alguém pra gostar de mim. Assim.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Dia de chuva

Oi, 

há tempos não te escrevo nada. Aliás, não me lembro de ter sido tão direta assim alguma vez. Chove, agora. Eu permaneço imóvel, na janela, só observando o ritmo e sentindo cheiro de terra molhada. Lembra que estava chovendo quando a gente começou escrever uma música que nunca terminamos? Você tocava e eu cantava. Aí depois você fez sozinho, o que me deixou um pouco irritada, mas extremamente feliz. Lembra que você jogou um balde de água na minha cabeça e me rodou firme até eu ficar absurdamente tonta? Arriscamos molhar o cabelo, a pele, a boca. Sinto saudade de você. Desculpa, não você, você. Mas um você outro, mais perto e acessível, a quem essa carta poderia ser direcionada sem tantas entrelinhas e meios. Sinto falta mesmo é de gente como a gente, sabe? Que se entrega, se declara, se molha. Eu sei que estamos bens. Você aí, eu aqui e um pontinho de saudade saudável. Eu só queria dizer isso pra alguém que vai entender. Você sabe que eu sempre invento oportunidade, intenções e declarações que, eu juro, querem dono. Eu não pensei duas vezes em direcionar histórias pra você porque você também estava disposto. As pessoas precisam estarem dispostas. Eu só ando cansada desse tanto de talento e vida perdida. Desse medo de doer e doar que as pessoas têm. Desse medo de tomar chuva, borrar a maquiagem e a roupa. Gente com medo de abrir a janela, iniciar uma conversa e ser ignorado. Saudade de gente que se arrisca, como nós. De gente que quebra as regras, mas não as leis. Saudade dessa sua coragem, em corpos alheios, de pegar carona pra viajar pra ver alguém. Sinto falta dos sussurros, do segredo, da vontade de desbravar o mundo em segundos. Saudade do nosso amor urgente de primavera, com data de validade. Quero gente assim, que não disfarça saudade ou paixão. Gente que enfrenta gostos musicais diferentes e sotaques estranhos. Gente que só usa o "não" no vocabulário pra preservar o juízo. Observo a chuva, tão despretensiosa, que tenho vontade dessa serenidade depois de muita atitude. "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.", escreveu João Guimarães Rosa. Ele é um dos meus escritores preferidos, já te disse? Tô com saudade mesmo é da parte de esquentar, entende? Ninguém quer abandonar o conformismo, desgrudar da rotina. Queria que algumas pessoas aprendessem com você. Porque é tanta vida, filme, livro, música (que não existem, ainda) querendo ser vividos que me dá uma agonia de desperdício. E não falo só do meu par romântico, digo também de se entregar aos compromissos pessoais e egoístas. Desse amor próprio que ninguém quer admitir, cultivar. Saudade de aprender a me amar, um pouquinho mais, cada dia. Saudade de gente que se permite. Espero que você esteja melhor do que sempre. Nesse quesito, de se entregar aos compromissos. Aprendi com você. Ainda temos que terminar isso, né?

Se cuida,
do seu amor exagerado,
Fernanda.

P.S.: É, às vezes eu me lembro quando chove... 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Aqui de passagem


E a vida vem, de mansinho, para nos provar que ela quem manda. Mesmo com a gente morrendo de tanta coisa e de tantos desejos. Meros espectadores. Engarrafamento, voo errado, semáforo demorado e nossa felicidade se esconde para uma outra hora. E lugar. Desencontros e esperanças esparramadas no chão. Choro lendo o cartão da amiga - que veio com cheiro e amor, menos presença - e lembro o quanto quero me encontrar. O quanto quero ser o que penso. O quanto queria que nosso maldito voo tivesse sido o mesmo só pra ter a mínima chance dele perceber que nos merecemos, que eu me importo, que a gente combina, mesmo que de longe. Combinar de longe já é grande coisa. Ou então só pra ver ele sorrir meio tímido e me chamar de algum nome que detesto e nem imaginar que só por isso vou explodir uma semana. Ou até mesmo pra saber que a gente pode se ver com mais frequência, se tudo der certo. Minha mãe liga. Ela não sabe que não posso falar poque ninguém pode me interromper nessas horas e reclama, enche o saco e me deixa estressada. Não entendo isso de serem sempre os filhos os compreensíveis. Compro um chocolate, mudo a música porque não quero lembrar o quanto gosto de Eduardo e Mônica, e escuto The Doors. Lembro do menino bonito do fim de semana com a blusa da capa do álbum. Vontade de ficar. Não quero mais ir. Aprendo, muda, que a hora de falar é quando você tem vontade, mesmo. Ninguém adia urgências faláveis. Vê só, nem sei mais o que dizer do jeito de Lady Gaga... Observo o homem de cabelo branco com chapéu na mão e tenho vontade de escutar sobre a vida dele. Mas todo mundo aqui ou está muito apressado ou tem muito tempo. Ele parece apressado. A bateria acaba e sobra espaço no coração e paciência na mente. Sei esperar. Abro o livro e fico enjoada na primeira frase. Estou voltando pra casa cheia. Cheia da barriga e de coisas estranhas, tipo borboletas no estômago sem explicação romântica. Trago a esperança de novas amizades, convites para um dia e o desespero de um mundo gigante. Compartilho histórias com quem não me obriga a fazê-lo. Começo a achar as coisas alcançáveis. Rezo pro futuro estar chegando. Durmo nas instruções do cinto de segurança. A história de amor do piloto com a aeromoça que me deem licença, mas agora eu vou viver.