domingo, 27 de maio de 2012

Luto

Meu peixe morreu. Vou sentir falta de saber que tem um ser vivo respirando comigo no mesmo lugar todas as noites. Mesmo que em um mundo bem menor que o meu. Quantas vezes não quis me afogar naquele aquário, também... e aposto que se ele fosse peixe gente, ia querer trocar de lugar comigo. Só tínhamos uns aos outros, mesmo com linguagens, tempo, idade e tudo diferente. Éramos da gente. Eu o alimentava, em troca de mais uma distração, ocupação. Limpava sua casa, pedia pro Bob Esponja te cuidar enquanto eu não estivesse. A gente não quer acreditar na morte. Nunca quer. Mas se tem uma coisa que acredito, é que morte é eternidade e aqui, passagem. E ele se eternizou. De repente, suas nadadeiras pesaram demais e alma ficou levinha. Alma leve é quase felicidade. Mas o que mais me doeu foi seu nome... que eu nunca dei ou sempre trocava. Lembra que eu disse que seu nome podia ser o dos meus amores e quando você morresse meu amor atual era o que seria pra sempre? Eu quase chorei por isso. Porque não sei mais o que é amor. Ou nunca soube. Ou talvez aprendi um tempo, mas achei que estava enganada depois. Lembrei da última pessoa e tive que me confirmar: mas amor não é beijo íntimo, não é? E ninguém se mexeu. Você deitado com a boca aberta e eu com a garganta presa. Me deu uma vontade danada de pegar o telefone e dizer "meu peixe morreu... e aposto que vou ficar uma semana pensando sobre meu amor atual-eterno que eu disse que deveria ser o nome dele, e agora?". Aposto que meu ouvinte não ia entender nada. Ou fingir que não entendeu e me fazer explicar cada vogal; provavelmente. E lá ia eu contar mais uma versão da mesma história. Continuo cheia de drama, de vontades, de reclamações e de vontade de mudar o mundo. Continuo querendo ser Deus pra ressucitar meu peixe e dizer que ninguém que eu gosto pode me deixar primeiro. Ninguém que eu gosto muito deve ir embora, porque isso é tão raro. E ninguém que eu gosto muito pode se eternizar, porque dói. "Não foi você que disse que nas melhores histórias alguém morre no final?", talvez meu ouvinte perguntasse. Só meu peixe sabe o que eu responderia.

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