sábado, 6 de julho de 2013

Refúgio

Onde todo mundo é de todo mundo. Onde é permitido ser piriguete, emo, rockeiro, gay ou culto no mesmo grupo. Onde tem quem saiba demais e quem não sabe de nada. Onde tem muita gente disposta a ensinar, e um tanto a aprender. Onde a ignorância é muito feliz e a inteligência não significa muito. Onde tem muito violeiro, muito casamento e muita reza. Onde é cura. Onde tem sorvete por 1 real e x-egg por 3,50. Onde amizade é de verdade e a fruta é do pé. Onde eu me escondo, me acho, me entrego. Onde não tem regras, nem polícia. Onde somos nosso limite. Onde não pega celular e em compensação, as conexões são muito mais verdadeiras. Onde eu já odiei, já amei, já ignorei. Onde é pequeno, mas é Capital do Forró. Lá, onde é livro aberto de tantas histórias, tantos bêbados, malucos, nerds, vocês, eu. Onde qualquer um é bem vindo. Onde todos estão sempre com os pés sujos. Onde pessoas e um litro de Coca-Cola com muitos copos de plástico é sinônimo de muita risada. Onde a gente canta, dança, ri, conversa, briga e o tempo não passa. Onde ninguém tem pressa... aposentados na porta de casa, fofoqueiras de plantão, amigos na praça. Onde tem muita esperança. Onde todo mundo vai pra São Paulo e volta no São João. Onde amizade é ouro e comida de vó é rotina. Onde a gente aprende o outro e ensina a gente. Onde pra ser importante só é preciso ser. Onde rua é palco. Onde Posto é cinema. Onde cemitério é segredo. Onde há vida. Onde há presente. Quem precisa de futuro? Onde a pele é cinza e o olhar intenso. Onde eu aprendi, no meio de tantas dúvidas e um pouquinho de dor - confesso -, que tudo passa... e se a gente souber escolher o cenário e os personagens certos, fica até suportável. A gente precisa é de coragem e vontade. Vontade de viver, aceitar, querer. E eu quero. Quero muito. Como nunca quis antes.

3 comentários:

  1. "Onde a gente aprende o outro e ensina a gente". Na 'cidade grande' parece que isso fica esquecido, né? Saudade de ter com quem compartilhar o valor do 'ser'.

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  2. Sabe o que é engraçado, Nanda? Sempre que eu leio qualquer palavra que você escreve, eu penso "como Nanda pode ser adorável assim?" eu acho que é por que eu sempre imagino você com esse sorriso lindo e enorme que você tem (acho que nunca vi você esquecer ele em casa) e eu sempre sorrio também e amabilidade é a primeira coisa na minha cabeça... Mas quando você vem e me solta um textos desses, eu penso "como Nanda consegue fazer isso?". Você junta aqueles sentimentos e pensamentos que eu tenho e espalha e explica eles com suas palavras e eu me sinto dentro do seu mundo por um período que, pode não ser suficiente, mas é fantástico enquanto dura. Enfim, o que eu amo é como você me transporta. Você escreve sobre um mundo onde tudo é tão "você", eu acho, que eu me sinto lisonjeada de poder passar meus minutos lá. Eu tô com saudades de você, mulher. Sempre e, acredito que, pra sempre impossível, você, não é?

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  3. Simplesmente brilhante. No começo pensei em fazer as malas e me mudar pra teu refúgio, mas ai eu vi que seria muito mais bonito fazer o meu próprio.

    Magnífico seu texto.

    www.eraoutravezamor.blogspot.com

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