domingo, 29 de março de 2009

A namoradinha

Ele chegou e já foi lhe dando a mão. Ela quase quis sair correndo, de vergonha, e até um pouco de arrependimento, talvez. Mas a vontade era maior, e depois de tudo que havia feito, não tinha como fugir...
Depois, com as mãos entrelaçadas, iam ambos sentar-se a um canto do shopping, onde a sombra era mais espessa, e aí conversavam baixinho; ouvia-se apenas o doce murmúrio das vozes, interrompidas por esses momentos de silêncio em que a alma emudece, por não achar no vocábulo humano outra linguagem que melhor a exprima. E ambos riam pela timidez que tomava conta.
Quem não sabe a história simples e eterna de um amor inocente, que começa por um olhar, passa ao sorriso, chega ao aperto de mão às escondidas, e acaba afinal por um beijo e por um sim, palavras sinonimas no dicionário do coração?
O beijo e o sim são as partes mais difíceis, pra menina, que mal havia contado pra mãe que já estava entregue ao amor proibido.
Num intervalo, entre uma conversa e outra os dois amantes apertaram-se as mãos e olharam-se com um desses olhares longos, fixos e ardentes que parecem embeber a alma nos seus raios límpidos e brilhantes. Carolina sorriu enrubescendo; aquela noite exprimia a felicidade, a realização do belo sonho cor-de-rosa que havia durado apenas um mês; a linda e inocente menina, que amava com toda a pureza de sua alma, não tinha outra resposta.
Sorriu e corou.
Assim, fascinada pela sua ilusão e por este contato voluptuoso, esqueceu-se, a ponto que, sem saber o que fazia, inclinou a cabeça e colou os lábios ardentes no dele. E logo sentiu, outra vez, a mãozinha, que apertava docemente a sua, como para impedir de sair. Mas ela saiu, inventou uma desculpa e ele disse "já?". Como boa menina, disse que sua mãe esperava sua ligação. E ele foi atrás, não soltando sua mão, e juntou-se aos amigos, que os olhavam com curiosidade.
Na frente de um menino, às vezes, quando é possível, Carolina só queria encostar um pouquinho. E ele deixou, e beijou sua cabeça com carinho.
No dia seguinte, vieram as notícias. Não as que ela odiava, e temia por chegar onde não devia, mas eram piores, notícias impiedosas. E ela entristeceu-se, quis odiar tudo, mas esta lembrança desaparecia logo sob a impressão de seu sorriso, que tinha em sua alma, de seu olhar, que guardava no coração, e de seus lábios, cujo contato ainda sentia.

Praticamente, por José de Alencar.
E um pedacinho de Tati, pra variar.

3 comentários:

  1. Quando estou querendo ler coisas bonitas, basta vir ao teu blog. Maravilhoso seu texto. VocÊ é parente do Vinicius de Moraes?

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  2. *-* , agora da para te entender melhot . :*

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