segunda-feira, 12 de abril de 2010

Aquele gosto, na maçã do rosto

- Bu.
- Você sumiu!
- Você também.
- O que aconteceu?
- Nos perdemos.
- Achei que nunca enjoaria de você.
- Eu avisei que enjoaria...
- Verdade.
- Dá pra desenjoar?
- Na verdade, acho que tá passando o enjôo.
- Já sei, uma agoniazinha no coração?
- Você também sentiu?
- Não, eu só sei.
- Putz. O que você acha quando lê minha mente?
- Agonias no coração.
- É?
- Sim. E me diz, como faço pra devolver seu coração?
Então, Julia ficou muda. E correu. Porque ele sempre perdia a chance de ser romântico, porque ele sempre a decepcionava e porque ela estava desesperada em ter o coração de volta. Ela gostava, mesmo, de não sentir. Gostava, sim. E quando já estavam a alguns metros de distância, ela começou a chorar. Sozinha. Não sabia exatamente porque, mas ela não gostou daquela pergunta. Ele estava ali, na frente dela, não precisava devolver nada. Só precisava se dar. Que trabalho ele tinha pra se dar? Podiam trocar corações, pensou. E ele olhava, olhava, olhava. Destestava a sensação que ele tinha de lhe chamar com o olhar. E ela sempre ia. Se odiava nessas horas... mas ele estava tão bonito. E tinham tanto tempo que não se viam, se tocavam! Tempo, na medida do amor... onde um dia, na verdade, são 24. Então, ela voltou. Não podia se perder daqueles olhos de novo. Mas ela queria ir embora, apesar de tudo, e ele não deixava. Agora, pendurava-se no seu casaco e pedia por um beijo de despedida. Ele estava tão perto. Tão bonito. Mas Julia gostava de coisas feias e machucadas, então ofereceu sua parte do rosto mais sem graça: a bochecha direita, que ficou marcada com o lábio mais frio que conhecia.

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