quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Silêncio



- Você tem andado tão calada... o que aconteceu?

(Tenho estado assim para não cuspir em cima desse moralismo barato imposto. Para não tropeçar no meio de suas palavras que pouco me importam. Tenho andado muda para não interromper dramas tão egoístas e importantes. Para não chorar contando que para alcançar alguma coisa tive que desistir de um dos meus maiores sonhos. Para não devorá-lo de um jeito tão medíocre. Para não ser escrota, puta, idiota. Calo-me para não expor tanta discordância. Para não gritar no meio do acorde maior da música preferida, nem escarrar verdades impróprias e arrogantes. Deixo os outros serem. Calada para não sair fogo quando eu falar. Para não morder, mastigar, triturar com os dentes. Para não rasgar o peito ao tomar o fôlego. Para não me desconcentrar no sétimo passo da dança, aquele em que ele me roda. Para não cair porque exagerei nos detalhes do olhar. Para não ser mal criada. E também porque as palavras não acompanham os pensamentos, assim eles são mais livres para existirem. Não digo nada para ir p'ro céu. Para evitar o sono no meio da segunda frase de horror. Nesse caso, palavras não mudam. Evito a saliva para manter o desgaste longe. A língua tem funções melhores. Suja, errada, errante. Sem sons é impossível arranhar os ouvidos. É por isso. O silêncio é mais confortável e sensato, agora. Assim eu escuto melhor.)

- Sei lá, acho que só estou cansada.

O que não deixa de ser verdade.

(...)

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