quinta-feira, 31 de julho de 2008

Algumas coisas não precisam ser ditas.

Lisa me fez companhia por um longo tempo naquela tarde, acompanhando minhas tarefas no quintal, brincando com Marley, jogando conversa fora. Eu senti que havia alguma coisa que ela queria me contar, mas não conseguia. Ela tinha dezessete anos. Eu não esperava que ela conseguisse verbalizar o que queria. Nossas vidas haviam se entroncado de forma inesperada, duas pessoas estranhas unidas por um surto de inesplicável violência. Não houve tempo de nos familizarizarmos como vizinhos comuns; não houve tempo para que estabelecêssemos nossos limites. Num segundo, estávamos ali, initimamente ligados num momento de crise, um pai em calções de dormir, e uma adolescente com uma blusa encharcada de sangue, abraçados a uma única esperança. Havia agora uma proximidade. Como poderia deixar de haver? Havia também um desconforto, um ligeiro constrangimento, por termos nos encontrado naquele momento sem nenhuma barreira. As palavras não foram necessárias. Eu sabia que ela se sentia grata por eu tê-la acudido. Eu sabia que ela aceitara meu esforço em consolá-la, mesmo sem surtir nenhum efeito. Compartilhamos algo naquela noite, sentados no meio do asfalto - um desses momentos breves de claridade que definem todos os demais ao longo da vida - que nenhum de nós jamais esqueceria.
- Fico feliz que tenha vindo me ver - eu disse.
- Eu também fiquei - Lisa respondeu.
Quando ela se afastou, me deixou uma boa impressão. Ela era forte. Era corajosa. Ela seguia em frente. E, de fato, descobri, anos mais tarde, quando soube que seguira carreira como apresentadora de televisão, que conseguira vencer o seu destino.

Marley & Eu, John Grogan.
Não-ficção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu recado após o sinal: bep.