segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Jeito de mato

- Posso tirar uma foto sua?
- Minha?
- É.
- Pra quê?
- Coleciono fotos... por favor.
- Não.
- Por que não?
- Eu não tô arrumada, fia...
- Mas você é linda.
- Sou nada, tô feia que dói.
- Eu preciso tirar uma foto sua... queria que fosse capaz de ver como está bonita aí na janela dessa casinha, com uma vassoura na mão, cabelos brancos e os olhos contando mais histórias do que imagina.
- Você é poeta?
- Não, por que?
- Do jeito que disse, parece que escreve tão bonito... igual aqueles artistas de televisão.
- Obrigada... será que agora não mereço uma foto?
- Sou triste.
- Pessoas tristes são lindas e rendem ótimas fotografias.
- São?
- Sim.
- Deixa eu tirar, vai.
- Não, a senhorita vai ter que me desculpar... pra tirar qualquer foto ainda teria que passar maquilagem.
- Mas se você usar qualquer grama a mais, não vai ser você.
- Desculpa de novo, pede outra pessoa.
- Nada de desculpa. Vou roubar uma pose então.
Click.
- Olha, eu gostei de você... mas isso é meu.
- Não pode me emprestar?
- Eu emprestei, agora devolve e apaga.
- Tudo bem.
Coloquei os fones de volta no ouvido e saí... a senhora olhou e ficou. Ninguém quer dar um pedacinho e ninguém sabe que quando peço, é porque o pedaço é especial. Não importa o quão importante e pra quem é importante, mas ser importante já é muito grande, e precisamos valorizar isso. A partir desse dia, está decidido roubar sorrisos, momentos, pedacinhos... sem pedir e sem peso na consciência. Porque ninguém é o que é. Só somos de verdade quando ninguém vê. Cansei disso... nos projetamos para situações e pessoas, regulando intensidade, sentimento, luz. Esquecemos da essência, que é encontrada, muitas vezes, em fotos roubadas e são essas que fazem a diferença: pessoas sendo em infinitos particulares.
Dei uma volta na praça e encontrei esse velhinho na sombra e quis mostrar para o mundo. Sabia que ele não queria se mostrar, mas alguém tinha de fazê-lo. Sorri e me preparei para o sorriso dele com o objeto preto nas mãos maior que meu rosto. Click. E o velhinho ficou pra sempre, meio sem-querer-querendo... talvez quem roube pedacinhos, também tenha 100 de anos de perdão...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu recado após o sinal: bep.