terça-feira, 24 de maio de 2011

Me aqueça

(Dessas coisas que a gente escreve e reza pra que nenhum parente no mundo saiba o endereço do seu Blog. Tudo culpa do frio esse texto. Juro. Mais ou menos ficção. Mais ou menos.)

Deitei ao seu lado e fechei os olhos. Vou falar algo que não sei se devia, mas deitar ao seu lado é sempre convite pra carinho. E você sempre entende. Fechei os olhos e esperei. Fazia frio. Suas mãos tocaram levemente minhas costas e eu abri um sorriso do lado direito da boca. Desses que não se quer admitir, mas que aprova muito bem a situação. Você estava distraído e eu completamente atenta aos seus movimentos. Escrevendo isso mentalmente. Suas mãos não são uma das minhas preferidas, admito. E eu odeio sua unha roída. Sério, você devia deixar crescer, deixar eu cortar de vez em quando. Inverteria os papeis por você, se quisesse... eu que nunca cortei minhas unhas, mas descobri que sou melhor que meu pai, e só o deixo fazê-lo pra sentar no colo dele e ouvir as histórias. Mas enfim... suas mãos zigue zagueavam nas minhas costas. E de tanto falar no fim do mundo, talvez eu quisesse que acabasse assim. Em paz. Você tem carinho tímido. Mas eu, como diria Monique, "gosto de carinho selvagem". O problema é que você sempre me deixa com gosto de quero mais. E aí eu sempre deito de novo esperando mais. É só por isso que volto. E você sempre entende. Depois de ler minhas costas toda, assim, em braile, foi pra nuca. Quase fingi que dormia, mas nem sei se você prestava atenção... foi quando todos meus pelinhos do braço se levantaram pra te ver. Talvez fosse o frio, mas eu vou te dar esse presente: muito provavelmente eram suas mãos grandes, ressecadas e com as unhas roídas. Pensei em te falar alguma coisa, muitas coisas, na verdade, mas pra não me perder nas palavras, nem interromper nada, preferi o mais seguro. Fiquei em silêncio. Seus dedos começaram a enroscar nos meus cabelos e eu só sabia gostar um pouquinho de você. Me virei pra te olhar e a gente ficou conversando com os olhos. Eu bem mais que você, eu acho. Conversar com os olhos é tão bonito, mas talvez eu tenha me perdido nos seus, puxadinhos, e esqueci de dizer obrigada. E a gente nem se beijou. Desculpa pelo egoísmo, mas é que eu precisava daquilo e não queria - desculpa de novo -, que sua saliva nos sujasse. Peguei nos seus cabelos, e encostei no seu peito mas perdoe a fraqueza... meu egoísmo não me deixou ir muito além. E suas mãos, e seus olhos, e suas costas e sua nuca só são lembranças de outras mãos, olhos, costas e nucas mais bonitas.

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